No Brasil, o dólar americano alcançou uma marca alarmante, ao fechar o dia em R$ 6,094, o que representa o maior valor nominal já registrado desde que o real foi introduzido em 1994. A moeda dos EUA fechou em alta de 0,99% nesta segunda-feira, 16 de dezembro, após diversas intervenções do Banco Central, que tentaram sem sucesso conter o avanço da divisa. O cenário econômico no país, caracterizado por preocupações com as contas públicas e instruções legislativas complexas, continua pressionando o câmbio.
Logo pela manhã, o dólar já demonstrou um comportamento ascendente, atingindo uma nova máxima de R$ 6,097, antes de as intervenções do Banco Central afetarem temporariamente sua trajetória. Este movimento esteve no centro das atenções das autoridades econômicas, em meio à crescente desconfiança sobre o compromisso do governo em manter as contas sob controle.
O Banco Central iniciou seus esforços com um leilão à vista, onde vendeu R$ 1,6 bilhão, seguido por uma operação de leilão de linha, através da qual vendeu US$ 3 bilhões com compromisso de recompra. Ambas as ações foram determinantes para aumentar temporariamente o fluxo de dólares no mercado, porém, não foram suficientes para inverter o curso da cotação.
Fatores tanto internos quanto externos influenciam o mercado. No Brasil, os investidores estão ansiosos pelo pacote de cortes de gastos e por sua votação prevista ainda para esta semana. O governo já alocou aproximadamente R$ 7 bilhões em emendas parlamentares para facilitar o processo no Congresso, que se aproxima do final do ano. A expectativa é que essas medidas sejam discutidas intensivamente, já que o prazo se encerra com o recesso parlamentar que começa em 23 de dezembro.
Além dos desafios fiscais, o clima de expectativa global também posiciona o dólar em uma trajetória altista. O mercado aguarda com ansiedade uma decisão do Federal Reserve dos Estados Unidos, que deve ocorrer nesta quarta-feira, 18 de dezembro, sobre os juros básicos da moeda americana, o que pode impactar diretamente o valor do dólar.
Embora o índice Ibovespa, que mede as ações brasileiras, tenha registrado uma queda de 0,84%, atingindo o menor nível desde junho, as intervenções do Banco Central não conseguiram sustentar uma baixa no dólar. Essa situação levou analistas do mercado financeiro a reavaliarem suas previsões. O Wells Fargo, por exemplo, sugere que o dólar pode atingir R$ 7 já no primeiro trimestre de 2026, evidenciando uma situação de desconfiança contínua nas políticas fiscais do Brasil.
Com os investidores preocupados com a possibilidade de que o governo não consiga aprovar os pacotes necessários para estabilizar as contas, o cenário permanece volátil. Essa anxiedade gerou, segundo especialistas, um fenómeno conhecido como dominância fiscal — quando ações de política monetária perdem eficácia em um ambiente de elevada dívida pública e inflação crescente.
A dinâmica atual do câmbio é indiscutivelmente complexa, refletindo o contexto legislativo desafiador e os riscos associados ao cenário econômico interno. O mercado de câmbio brasileiro, especialmente diante de um cenário internacional aparentemente instável, requer participantes cuidadosos que estejam sempre atentos às movimentações governamentais e políticas monetárias que afetam diretamente o valor da moeda nacional.
Além disso, as falas do presidente Luiz Ignácio Lula da Silva durante entrevistas recentes, onde criticou o nível da taxa Selic, também ressurgiram como um fator de inquietação entre os investidores. Lula qualificou o atual índice de juros como “errado”, argumentando que taxas mais baixas poderiam facilitar o crescimento econômico, mas esse tipo de retórica gera mais perguntas do que respostas na comunidade financeira.
Por fim, enquanto as intervenções do Banco Central oferecem um alívio temporário, especialistas como Fabio Louzada, economista e planejador financeiro, e Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, concordam que esse remedinho pode não ser suficiente para controlar o aumento persistente da moeda americana. No horizonte, o caminho continua incerto, e os investidores precisarão ser estratégicos com suas movimentações até que uma estabilidade seja encontrada.
